BRASÍLIA – Enquanto uns tentam a qualquer custo fugir da mira do juiz Sergio Moro, outros fazem de tudo para se tornar um delator premiado da Operação Lava-Jato. É o que pretendia um presidiário, classificado como de “altíssima periculosidade”, que sonhava com benefícios em troca de informações. Ele enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma carta recheada de pedidos e promessas. Ao contrário do que informado anteriormente, a correspondência foi endereçada ao próprio Moro e não ao ex-presidente Ricardo Lewandowski. A carta solicitava um encontro com o magistrado e prometia revelar novidades sobre o sítio de Atibaia, cuja propriedade é atribuída ao ex-presidente Lula.
Paulo Ricardo Costa de Moraes jura que trabalhou como auxiliar do caseiro no sítio Santa Bárbara e teria muita coisa para contar. Apesar de estar preso no interior de São Paulo, exigiu ser ouvido em Curitiba. E ainda pediu proteção policial.
Nas quatro folhas de caderno, escritas à mão, ele prometeu entregar um computador que teria sido do ex-presidente Lula, e garantiu ter conversas comprometedoras gravadas do Skype. O equipamento teria sido furtado por ele durante a trabalho. E, por conta do delito, já adiantou um pedido de perdão. Também contaria detalhes de tudo o que teria visto no sítio. Prometeu falar sobre o “mundo criminoso” em que vive o ex-presidente, mas não deu nenhum detalhe do que se tratava.
Garantiu, entretanto, que indicaria a localização de uma outra casa de campo que seria do ex-presidente em Monte Verde (MG). Paulo Ricardo também teria prestado serviços nesse lugar.
A carta foi enviada no início de agosto à Suprema Corte. Desde então, começou a mobilização da Justiça, do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e até do sistema carcerário para apurar a história. Mesmo com o tom elevado da correspondência do caseiro — em que fala impropérios contra o PT e seus seguidores — a força-tarefa insistiu em ouvir o que Paulo Ricardo tinha a dizer.
Por obrigação legal, o Ministério Público Federal não poderia ignorar uma denúncia remetida ao Judiciário. Era preciso, no mínimo, averiguar a veracidade do relato feito na carta de Paulo Ricardo, anexada ao processo do MPF, ao qual O GLOBO teve acesso.
Antes de ouvir o indivíduo, os procuradores pediram a extensa ficha corrida dele. São passagens por delegacias, centros de detenção e presídios em várias cidades. Ele dizia que teria trabalhado no sítio por alguns meses em 2013 — o que só seria possível caso tivesse ocorrido no intervalo entre uma fuga da penitenciária e a próxima prisão.
Foi necessário um intenso trâmite de papéis para autorizar o transporte do preso. O departamento de atendimento ao cidadão do STF encaminhou a carta para Moro e desencadeou todo o processo burocrático. Dois procuradores da República foram designados para o caso. Formalmente, o processo entrou na Operação Lava-Jato.
Há poucos dias, Paulo Ricardo deixou o presídio de Tupi Paulista para contar tudo o que sabia. O depoimento foi dado na segunda semana de setembro a três integrantes do Ministério Público Federal em Marília.
O resultado de toda essa operação não agradou muito aos envolvidos. Segundo fontes da força-tarefa da Lava-Jato, ouvidas pelo GLOBO sob a condição de anonimato, o depoimento foi decepcionante.
Eles classificaram a fala do presidiário como “inconsistente”. Nem relatos coerentes ou provas foram apresentados. Os procuradores federais apostam que praticamente nada deve ser aproveitado nas investigações do esquema de corrupção.
Paulo Ricardo não conseguiu o que queria quando mandou para Brasília a correspondência. Voltou para cadeia sem conhecer o juiz Sérgio Moro e sem virar delator da Lava-Jato. Procurada, a Procuradoria da República no Paraná informou que o Ministério Público Federal não tem comentário a fazer sobre o assunto.
Fonte: O segredo furado sobre o sítio de Lula